quarta-feira, 25 de julho de 2012

Computadores acoplados ao corpo despontam como tendência para o futuro


Os computadores pessoais estão mudando de cara. Em um futuro nem tão distante, eles não ficarão sobre a mesa ou dentro do bolso. Os dispositivos assumirão a forma de roupas, joias, acessórios e até tatuagens.
Soa como filme de ficção científica, mas atualmente empresas, universidades e hackers trabalham para desenvolver uma classe chamada de computadores vestíveis (conhecidos em inglês como "wearables").

O primeiro passo para a popularização foi dado pelo Google em abril, quando anunciou que está trabalhando em óculos futuristas.

O acessório roda Android, tem processador e memória, sensores de GPS, câmera digital e uma pequena tela, que exibe informações diretamente para os olhos do usuário.

"Os vestíveis serão a norma", disse à "Wired" Babak Parviz, um dos responsáveis pelo projeto. Antes do Google, o pesquisador trabalhava na Universidade de Washington na criação de uma lente de contato capaz de exibir informações transmitidas pela internet, que chegou a ser testada em coelhos.

Outros gigantes também estão de olho nesse mercado. No começo de julho, a Apple registrou patentes de óculos futurísticos. Na mesma semana, a Olympus anunciou um produto parecido. Ele se conecta via Bluetooth ao celular e exibe informações.

A Nokia foi mais longe e registrou a patente de uma tatuagem eletrônica que vibra quando há ligações telefônicas ou mensagens SMS.

Já disponíveis no mercado, alguns produtos voltados para o esporte são roupas e pulseiras. A Adidas, por exemplo, vende uma espécie de sutiã com sensores embutidos que captam batimentos cardíacos e calorias perdidas. As informações são enviadas para o smartphone.

Em janeiro,durante a CES, maior feira de eletrônicos do mundo, diversas empresas apresentaram produtos, como jaquetas e relógios com computadores integrados.

"Acredito que os vestíveis serão populares entre sete e dez anos", diz Patrick Moorhead, presidente da consultoria Moor Insights and Strategy. "Será quando as pessoas que podem pagar por eletrônicos básicos poderão comprar vestíveis."

Atualmente, a categoria é estudada e implementada em situações especiais, como na reabilitação de deficientes ou como acessório militar. Forças especiais do Exército americano já usam óculos que exibem informações, como localização.

O foco para o consumidor final deverá ser a comunicação e o entretenimento. Imagine como a vida melhoraria se os seus óculos identificassem alguém que você conhece mas não lembra de onde (como fazia o personagem de Arnold Schwarzenegger em "O Exterminador do Futuro").

"Vestíveis são o último passo antes de computadores implantados, que atualmente têm difícil aceitação", diz Moorhead.

NO BRASIL

O desenvolvimento de vestíveis no Brasil se concentra nas universidades e visa principalmente a recuperação de funções biológicas, como fala, visão e locomoção.

Um dos projetos do tipo está sendo desenvolvido na USP de São Carlos. Trata-se de um chip implantado no córtex cerebral que vai comandar um exoesqueleto, uma espécie de armadura, para fazer deficientes voltarem a andar.

Mario Alexandre Gazziro, um dos pesquisadores do projeto, tem outro protótipo na área: armas de fogo que disparam só quando em contato com um chip implantado sob a pele ou embutido em luvas.

Rachel Zuanon, fundadora de uma empresa especializada em vestíveis, criou uma espécie de colete para jogar usando sinais neurofisiológicos. Se o jogador está muito agitado, a vestimenta vibra para exigir sua concentração.

"NeuroBodyGame", porém, não está à venda e tem caráter artístico.

"A estabilização da economia brasileira deve criar demandas por produtos estruturados pelas tecnologias digitais e ubíquas", diz Luisa Paraguai, professora de pós-graduação da Universidade Anhembi Morumbi e artista responsável por instalações com computadores vestíveis.

A arte nesse campo levou o trabalho de Ricardo Nascimento para exposições no exterior. Entre os projetos está um vestido com sensores e caixas de som embutidos que exploram a música de Taiwan.

Fonte: A Folha