A reeleição do presidente Barack Obama nos Estados Unidos representa continuidade nas relações com o Brasil, que, para analistas, estão mais maduras e continuarão a "se adensar".
Embora não houvesse um posicionamento oficial, analistas afirmam que o governo da presidente Dilma Rousseff preferia a permanência de Obama, por já ter uma relação estabelecida com a Casa Branca.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil foram unânimes em dizer que qualquer resultado da eleição, seja a favor de Obama ou do rival republicano Mitt Romney, não alteraria a ligação com o Brasil.

"Essas relações estão ficando cada vez mais independentes do governo, não importa quem esteja no governo em Brasília ou em Washington."
"Não muda nada, porque a relação é basicamente na área econômica e comercial, e nessa área não existe uma separação entre a plataforma republicana e democrata", afirma Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil nos EUA entre 1999 e 2004.
Parceria comercial
Os Estados Unidos são hoje o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tendo sido ultrapassados pela China nas importações e exportações brasileiras.
Enquanto o posicionamento de Obama já é mais familiar ao governo brasileiro, porém, havia uma preocupação com caminhos que poderiam ser tomados por Romney na política externa, caso adotasse uma atitude mais agressiva e menos voltada ao diálogo que Obama, e na economia.
Embora a promessa de Romney de investir mais na América Latina e a tendência do partido republicano de ser menos protecionista pudessem soar atraentes ao governo brasileiro, Marcelo Zorovich afirma que uma agenda econômica mais voltada para o liberalismo seria motivo de preocupação.
"O mundo está passando por um momento de aperto e o governo Obama tem tomado medidas para regulamentar o mercado. Havia indícios de que o governo republicano favorecesse o livre comércio, com menos regulação de mercado", diz o professor de Relações Internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Para Geraldo Zahran, o discurso de Romney sobre a disposição em investir mais na América Latina era uma forma de fazer um agrado à grande população latina residente nos EUA, já que ele não faria concessões em sua política sobre imigração.
"O Obama promoveu muito o comércio com a América Latina, fechou acordos de livre comércio com países como a Colômbia. Isso já está na pauta do presidente", considera Zahran.
Cooperação
De acordo com uma fonte do Itamaraty, o primeiro mandato de Obama foi um período positivo para as relações bilaterais também por ter preservado e ampliado os mecanismos de cooperação criados a partir do governo de George W. Bush. Hoje os dois países têm 25 áreas de cooperação e diálogo estabelecidas.
"O que aconteceu de muito importante durante o governo Obama foi o reconhecimento do Brasil como um parceiro global", diz a fonte. "Um diferencial hoje na relação EUA-Brasil é a confiança mútua. Existem muitas diferenças, mas hoje se lida com elas de uma forma madura."
Para Marcelo Zorovich, o Brasil vê a relação com o governo Obama de forma estável, menos regional e mais global. "Não há tanta pressão por parte dos EUA para que o Brasil se alinhe com posições dos EUA. Acho que há uma linha de respeito um pouco maior."
O professor da ESPM considera que há espaço para melhorar as relações em algumas áreas, estreitando por exemplo a cooperação no mercado do etanol e equilibrando mais a balança comercial. Hoje, o Brasil importa mais dos EUA do que exporta, comprando US$ 24 bilhões ao ano e vendendo US$ 20,6 bilhões.
Neste âmbito, o principal ponto de conflito que permanece é na disputa sobre o algodão.
O Brasil aguarda a renovação da Farm Bill americana – a lei que regulamenta os subsídios agrícolas – para ver se os EUA reduzirão os subsídios ao algodão, conforme prometido.
Os dois países têm tido trocas constantes na área acadêmica, com o programa Ciência Sem Fronteiras, e na questão dos vistos de entrada e saída. A emissão de vistos para brasileiros foi facilitada e agora estuda-se a isenção da exigência para turistas nos dois países.
"Se por um lado a agenda está mais madura, também não é uma agenda muito ambiciosa. Isso poderia ser um ponto de crítica ou de oportunidade para o próximo governo de Obama", aponta Zorovich.
FONTE: BBC Brasil