quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pesquisa mostra que a evolução não favorece pessoas egoístas

Segundo uma nova pesquisa realizada por cientistas americanos, o egoísmo poderia ter extinto a humanidade.
Uma teoria anterior sugeria ser melhor tomar decisões favorecendo a si mesmo, ao contrário disso, o novo estudo afirma que ser cooperativo traz vantagens sobre o egoísmo.

Para conduzir a pesquisa, os cientistas usaram uma teoria que envolve a simulação de situações de conflito ou de cooperação. Ela também permite desvendar estratégias de tomadas de decisão complexas e estabelecer porque certos tipos de comportamento surgem entre os indivíduos.
Divulgado pela publicação científica Nature Communications, o estudo concluiu que se todos preferissem exercer ações egoístas os seres humanos poderiam ter sido extintos.



Dilema do prisoneiro

O estudo, realizado por uma equipe da Michigan State University, nos Estados Unidos, usou como modelo o chamado "jogo do dilema do prisioneiro", onde dois suspeitos são interrogados em celas separadas e devem decidir se delatam um ao outro ou se preferem se calar.
Nesse modelo, um acordo de liberdade é oferecido a cada prisioneiro se eles decidirem denunciar o outro.
A liberdade só é alcançada por aquele que denuncia, desde que o outro oponente decida ficar calado, o que leva este último a ser punido com seis meses de prisão.
Se ambos os prisioneiros denunciam um ao outro, os dois pegam três meses de prisão - delação.
No caso dos dois decidirem ficar em silêncio juntos - cooperação - eles ficariam apenas um mês na prisão.
O importante teórico matemático John Nash demonstrou, nesse modelo, que a tendência mais observada era a de não cooperar.

"Pode-se pensar que a seleção natural poderia favorecer indivíduos que são exploradores e egoístas, mas, na verdade, nós sabemos agora, depois de décadas de pesquisa, que essa é uma visão simplista das coisas"
Christoph Adami, responsável pela pesquisa

A resposta

A resposta, afirma Adami, é de que a comunicação entre os indíviduos do "jogo do dilema do prisioneiro" nunca havia sido levada em consideração.
"A teoria parte do pressuposto de que os dois prisioneiros interrogados não podem falar entre si. Caso isso acontecesse, eles fariam um pacto e ganhariam a liberdade em um mês. Mas, proibidos de conversar, a tentação é de que haja uma delação, de um ou de outro", diz o cientista.
Crucialmente, em um ambiente evolucionário, conhecer a decisão de seu adversário poderia não se tornar uma vantagem a longo prazo, porque o oponente poderia desenvolver o mesmo mecanismo de reconhecimento que o seu, explicou Adami.
Essa foi exatamente a conclusão a que a equipe chegou. Para obter tal resultado, eles usaram um poderoso modelo de computador para realizar centenas de milhares de combinações, simulando um simples intercâmbio de ações que, no entanto, levou em conta uma comunicação prévia entre os "usuários".

Darwin

O professor Andrew Coleman da Universidade de Leicester, no Reino Unido, disse que o novo trabalho "freia interpretações com excesso de zelo" da estratégia prévia, que propôs o avanço de padrões egoístas e manipuladores.
"Darwin ficou intrigado com o que observou na natureza. Ele se atinha particularmente aos insetos e seu modelo de cooperação", explicou.
"Pode-se pensar que a seleção natural poderia favorecer indivíduos que são exploradores e egoístas, mas, na verdade, nós sabemos agora, depois de décadas de pesquisa, que essa é uma visão simplista das coisas, especialmente se o "gene egoísta" da evolução for levado em consideração".
"Explico-me: não são os indivíduos que têm de sobreviver, mas sim seus genes. Os genes só usam os organismos – de animais ou de humanos – como veículos de propagação."
"Os genes egoístas" se beneficiam, portanto, de organismos que cooperam entre si", conclui.

Fonte: BBC Brasil