Uma pesquisa divulgada pela fundação Varkey Gems, colocou o
Brasil ficou em 20º lugar entre 21 países em um ranking que mostra a
valorização dos professores nos países.
O estudo levou em consideração a remuneração dos professores,
o respeito por parte dos alunos em sala de aula e o interesse pela profissão.
Outra pesquisa, das fundações Victor Civita e Carlos Chagas,
mostrou que apenas 2% dos estudantes de ensino médio pesquisados tinham como
primeira opção no vestibular a carreira em pedagogia ou licenciatura.
"Ao contrário de países (com ensino considerado de alta
qualidade) como Cingapura, Finlândia e Canadá, no Brasil o trabalho é visto
como algo que qualquer um pode fazer. A maioria não escolhe ser professor, é
escolhido (por falta de outras oportunidades)." Paula Louzano,
pesquisadora da Faculdade de Educação da USP e doutora em educação em Harvard.
A mudança dessa mentalidade é "fundamental", diz Paula.
"A docência é uma das profissões mais complexas de se fazer bem-feito, de
ensinar 40 alunos de uma mesma sala com demandas e históricos diferentes."
O tema ganhou força nesta terça-feira, dia do professor. Foram
planejados vários protestos pela educação em diversas cidades brasileiras. Também
nesta terça-feira, professores fluminenses decidiram em uma assembleia
continuar uma greve iniciada há 2 meses.
Em meio a protestos por melhorias na educação, à greve de
professores no Rio de Janeiro e à pouca procura pela carreira no magistério, o
que é preciso para valorizar a carreira de professor no Brasil?
Salários
O debate sobre a atratividade da profissão também passa por
salários. Um levantamento da ONG Todos Pela Educação com base em dados do Pnad
(pesquisa nacional de amostra de domicílios do IBGE) mostra que os professores
de educação básica brasileiros ganham apenas um terço do que a média de
profissionais formados em ciências exatas.
Isso ajudaria a explicar a dificuldade de muitas escolas em
conseguir bons professores de física e matemática, já que profissionais com
esse tipo de formação conseguem remuneração muito superior em outras áreas.
Ao mesmo tempo, o levantamento da ONG aponta que o salário
dos professores tem crescido gradativamente entre 2002 e 2011 (o Pnad de 2012
ainda não foi computado), ganhando competitividade perante os rendimentos de
outros profissionais com ensino superior completo.
"A diferença salarial está caindo, mas as condições de
trabalho não dizem respeito apenas ao salário", explica Alejandra Meraz
Velasco, gerente técnica da Todos Pela Educação.
Beatriz Lugão, diretora do Sindicato Estadual dos
Professores do Rio, cita entre as queixas da categoria "a falta de
autonomia pedagógica (o fato de os professores se sentirem limitados quanto à
elaboração das aulas, por exemplo), turmas superlotadas, sucateamento de
escolas e filtro ideológico na indicação política (do corpo de
diretores)".
Simultaneamente, um dos avanços em políticas públicas, diz
Paula Louzano, é a adoção de um piso salarial nacional aos professores, ainda
que não tenha sido estabelecido em âmbito federal um limite máximo de horas de
trabalho.
"Isso faz com que alguns professores trabalhem 71 horas
semanais, em duas ou três escolas diferentes. A qualidade desse trabalho vai
ser afetada."
Gestão escolar
Para Naercio Menezes, coordenador de pesquisas do centro de
políticas públicas do Insper, o professor está lentamente recompondo seu poder
de compra perante outras carreiras, mas ele argumenta que não há uma correlação
clara entre salários de mestres e o desempenho dos estudantes em avaliações
como a Prova Brasil. E diz que o número de faltas desses professores é um dos
fatores que prejudicam os alunos.
"O mais importante é a gestão (escolar)", defende.
"Se a escola não introduz a meritocracia e o bônus pelo desempenho (dos
professores), há uma acomodação geral no sistema."
A ideia não é consenso entre especialistas. Louzano
argumenta que a escola pública, em geral, não oferece apoio suficiente ao
docente para impor cobranças por meritocracia.
"É preciso pensar numa política que combine apoio (ao
professor) e incentivos (ao seu desempenho)", opina.
Mas a gestão escolar volta a aparecer como um fator
importante em uma recente pesquisa da Fundação Lemann e do Itaú BBA, que mapeou
iniciativas bem-sucedidas em escolas em regiões carentes do país.
Entre essas iniciativas estão estratégias para valorizar o
docente – mesmo na ausência de um plano de carreira – e capacitação especial
para os professores em pontos específicos do conteúdo escolar que eles tenham
tido dificuldade em ensinar aos alunos.
Formação
A capacitação e formação dos mestres é citada também por
Paula Louzano como um dos pontos cruciais para a valorização do docente e a
melhoria do ensino básico no país.
Ela cita duas preocupações específicas: primeiro, a
não-valorização de suas habilidades ("infelizmente consideramos aceitável
que, se falta um professor de física, qualquer um possa dar aula no lugar
dele") e, em segundo lugar, a proliferação de cursos privados de qualidade
duvidosa - muitos à distância e com carga horária insuficiente – na formação de
docentes.
"Há no mercado cada vez mais cursos baratos, de final
de semana, e sem tutores qualificados, que certificam (pessoas a serem
professores)", argumenta. "Por que não consideramos isso aceitável em
engenharia ou medicina, mas sim na formação de nossos professores?"
Questionado pela BBC Brasil, o Ministério da Educação
enumerou projetos diversos voltados à valorização de docentes, como o Plano
Nacional de Formação de Professores (com cursos de licenciatura e formação
pedagógica), o Pibid (programa de concessão de bolsas a alunos de licenciatura)
e a Universidade Aberta do Brasil, que tem cursos de aperfeiçoamento a
professores em áreas como matemática, gestão escolar e educação integral, entre
outros.
Fonte: BBC Brasil