quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Entenda o que é Crowdfunding e como ele está mudando o mundo

No final do século 19 surgiu a primeira intervenção urbana financiada por crowdfunding, ou financiamento coletivo, era a famosa Estátua da Liberdade.

O artista plástico francês Frédérico-Augustine Bartholdi queria homenagear o centenário de independência dos Estados Unidos e decidiu criar uma estátua gigante para presentear os americanos. Na falta de um mecenas que investisse no projeto, Bartholdi passou 10 anos levantando dinheiro com uma multidão de pequenos financiadores, que, em troca, ganhavam uma réplica em miniatura da obra. Foi assim que conseguiu viabilizar a criação da escultura, que chamou de “Liberty Enlightening the World”.

De lá para cá, a possibilidade de viabilizar coletivamente não só intervenções como espaços públicos e até modelos de gestão urbana cresceu e se diversificou. Especialmente com plataformas que pegaram carona na internet e nas redes sociais para se especializarem nesse modelo de financiamento.

Em 2013, o Kick Starter, maior plataforma do mundo de corwdfunding, teve 3 milhões de apoiadores de 214 países de todos os continentes (inclusive a Antártida), que levantaram 480 milhões de dólares para colocar 19.911 projetos em prática. Graças ao Kick Starter estão em construção o primeiro helicóptero a propulsão humana do mundo, um Delorean aerodeslizador inspirado na trilogia De Volta para o Futuro, um parque público de skateboard na Filadélfia e uma piscina pública no rio Hudson, em Nova Iorque, entre outros.

O Citinvestor criou um modelo interessante: permite que a sociedade civil viabilize projetos já aprovados em instâncias legislativas para a cidade, mas que não tiveram verba pública para serem executados. Até o mercado imobiliário está experimentando o financiamento coletivo na plataforma Fundrise. Nela, qualquer pessoa pode ser co-financiadora de um empreendimento – seja ele um café, um centro cultural ou um edifício residencial assinado por um arquiteto local. Imagine o potencial de incorporar o crowdfunding à gestão oficial das cidades, permitindo que uma porcentagem do imposto de renda, por exemplo, seja destinada a um projeto em que o cidadão acredite. É o que o objetivo da plataforma finlandesa Brickstarter, ainda em fase de implementação, mas que mantém um blog sobre como o crowdfunding pode ser uma ferramenta de gestão no futuro das cidades.

Nossa maior plataforma no Brasil, o Catarse, acaba de fazer 3 anos. O jornalista inglês Claire Rigby disse "que 2013 pode ser lembrado como o ano em que o Brasil tomou as ruas", mas essa é só a ponta do iceberg de um movimento urbano bem maior, em que as pessoas estão “ocupando os espaços públicos com cores e sonhos”. O Catarse viabilizou, por exemplo, o Baixo Centro, um festival de arte e ocupação civil que ocupou o centro de São Paulo por 10 dias, um Plano Diretor para o bairro da Pompéia e a sinalização de pontos de ônibus com o itinerário dos coletivos em Porto Alegre. Em 2013, o Catarse inaugurou um canal especializado em intervenções urbanas, em que os projetos são parcialmente viabilizados pelo Instituto Asas.
Esses exemplos nos mostram como o crowdfunding é peça importante na reinvenção da gestão política e econômica das cidades – e como esse modelo ganhou força em 2013. Essas plataformas diminuem a lacuna entre intenção e ação, multiplicando os caminhos possíveis para que as pessoas construam, juntas, a cidade que querem. Isso não significa que o crowdfunding seja a solução dos problemas urbanos. Mas é um caminho para a inovação, para atender à complexidade das demandas de cidadãos tão diversos, para mapear problemas e testar vocações urbanas.

Fonte: Revista Superinteressante