O novo marco regulatório para a exploração do petróleo no  Brasil, anunciado na segunda-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,  representa “uma virada nacionalista” para o Brasil, segundo afirma reportagem  publicada nesta terça-feira pelo diário americano The New York Times.  
“O governo brasileiro propôs mudanças às leis existentes na segunda-feira  para dar o papel principal no desenvolvimento das reservas-chave de petróleo em  águas profundas para a gigante estatal da energia, a Petrobras, em detrimento  das rivais estrangeiras”, observa o diário.
“O novo marco regulatório do país representa uma virada nacionalista para o  Brasil”, diz a reportagem, que comenta que os campos descobertos nos últimos  dois anos podem transformar o Brasil em uma grande potência mundial de  energia.
A reportagem comenta que as novas regras, que ainda dependem de aprovação do  Congresso, “confinariam as empresas estrangeiras a papéis mais subservientes à  Petrobras e a uma nova estatal do petróleo ainda a ser criada”.
Divisão social
Já o diário econômico americano The Wall Street Journal destaca que,  para cumprir sua promessa de financiar o desenvolvimento do país com os recursos  provenientes do petróleo, Lula “terá que ter sucesso onde gerações de governos  latino-americanos, do México à Bolívia, falharam: transformar a riqueza de  vastos recursos naturais no motor do desenvolvimento”. 
“O Brasil, com alguns dos maiores estoques do mundo de minério de ferro e  prata, tem uma das maiores diferenças entre os ricos e os pobres”, diz a  reportagem.
O jornal comenta que para superar os desafios tecnológicos para explorar os  novos campos, a quilômetros de profundidade sob uma camada de rocha e sal, o  país precisará de ajuda, mas “poderá não atrair a colaboração de que necessita a  menos que ofereça aos parceiros termos mais lucrativos”.
A reportagem do Wall Street Journal observa ainda que as ações da  Petrobras “caíram na segunda-feira, em parte por causa da preocupação de que o  governo terá uma participação maior na companhia”. 
O jornal lembra ainda que “alguns observadores questionam a suposição básica  de que a extração do petróleo é certa”, já que a britânica BG Group e a  americana Exxon anunciaram no mês passado não terem encontrado petróleo em suas  áreas de concessão, apesar de a Petrobras ter dito que a maioria de suas  perfurações de teste encontraram petróleo.
Eleições
O diário espanhol El País relata que o presidente Lula anunciou "um  novo dia da independência" com as novas regras para a exploração do petróleo,  “com o olhar voltado para as eleições presidenciais que acontecerão em outubro  do ano que vem”. 
O jornal observa que o projeto anunciado pelo governo foi enviado em regime  de urgência ao Congresso, que terá agora 90 dias para discuti-lo e votá-lo.
“A pressa para aprovar um novo marco regulatório tem uma leitura dupla: por  um lado, Lula não quer deixar muita margem de manobra para que a oposição faça  uma sangria num projeto que já vem sendo criticado por vários grupos políticos”,  diz o texto.
“Em segundo lugar, também não convém ao líder brasileiro que estas discussões  acabem se misturando com a campanha eleitoral prevista para o próximo ano”,  afirma o jornal.
A reportagem observa que Lula terá o reconhecimento político de que o Brasil  está se convertendo em uma potência petrolífera de primeira ordem, mas que não  gostaria de enfrentar o desgaste político diante de um eventual enfrentamento  com o Congresso em plena corrida presidencial.
“Para o presidente brasileiro, a prioridade é que sua candidata, a  superministra Dilma Rousseff, ganhe as eleições de 2010 para o Partido dos  Trabalhadores (PT)”, diz o jornal.
Combate à pobreza
O jornal britânico The Guardian relata em sua reportagem que Lula  “prometeu injetar bilhões de petrodólares na guerra contra a pobreza após as  maiores descobertas de petróleo da década”. 
“Ele afirmou que a nova legislação que está propondo permitirá que os lucros  sejam usados para ‘cuidar’ da educação e da pobreza de uma vez por todas”, diz a  reportagem.
O Guardian comenta que a descoberta dos novos campos de petróleo a  partir de novembro de 2007 levaram o Brasil a suspender os leilões de concessão  de novos blocos para a exploração de petróleo “para dar ao governo uma parcela  maior dos lucros”. 
“Lula deve criar um ‘fundo social’ com o objetivo de canalizar os lucros com  o petróleo para iniciativas de redução da pobreza e poderia dar um controle  maior dos campos de petróleo ‘estratégicos’ ao governo”, diz a reportagem.
Segundo o jornal, “companhias estrangeiras de petróleo reagiram com  nervosismo à especulação sobre a nova legislação, preocupadas de que terão um  papel menor na futura exploração na região”.
O diário econômico Financial Times observa que as incertezas sobre o  novo regime, aliadas à queda no preço do petróleo, provocaram uma queda de mais  de 8% nas ações da Petrobras na última semana.
Fonte: BBC News 
 
