Cientistas americanos desenvolveram um método experimental que,  no futuro, pode fazer com que mulheres portadoras de algumas desordens genéticas  não transfiram estes problemas aos filhos.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Oregon Health and Science  University, foi publicado nesta quarta-feira no site da revista científica  Nature e deve sair na edição impressa da publicação nas próximas  semanas. 
Segundo os cientistas, o novo método, que por enquanto só foi testado em  macacos, poderá fazer com que mulheres com desordens genéticas não transfiram  estes problemas aos seus filhos por meio do DNA de suas mitocôndrias.
As mitocôndrias são estruturas encontradas nas células e que são responsáveis  pela produção de energia e pelo metabolismo celular. Estas estruturas também  possuem seu próprio material genético.
Quando o óvulo de uma mulher é fertilizado pelo espermatozoide durante a  reprodução, o embrião herda quase que exclusivamente a mitocôndria da mãe, o que  faz com que qualquer desordem que ela possua em seu DNA mitocondrial seja  transferida para o filho.
Solução
Para tentar solucionar este problema, os cientistas, que trabalhavam com  macacos rhesus, conseguiram transferir cromossomos da mãe para um óvulo doado  que teve seus cromossomos retirados, mas que tinha a mitocôndria saudável.
Dessa forma, eles conseguiram fazer com que o óvulo pudesse gerar bebês  saudáveis, que não herdaram o problema genético da mãe.
O experimento deu origem a dois filhotes de macacos gêmeos que foram  batizados de Mito e Tracker.
“Atualmente, são conhecidas 150 doenças causadas por mutações no DNA  mitocondrial, e aproximadamente uma em cada 200 crianças nascem com mutações nas  mitocôndrias”, diz Shoukhrat Mitalipov, um dos autores do estudo.
Entre as doenças que poderiam ser evitadas com a técnica estão algumas formas  de câncer, diabetes, infertilidade e doenças neurodegenerativas.
O método, no entanto, pode gerar polêmicas éticas se aplicado em humanos, já  que o embrião herda parte do material genético da fêmea que doa o óvulo.
Falhas anteriores
Pesquisas anteriores haviam tentado corrigir estas alterações genéticas que  podem causar doenças ao adicionar mitocôndrias saudáveis doadas nos óvulos de  pacientes que queriam ter filhos.
Estas tentativas, no entanto, resultaram no nascimento de bebês não  saudáveis, provavelmente porque a mitocôndria é tão delicada que foi danificada  ao ser transportada de um óvulo para outro.
Como resultado, este tipo de tratamento foi proibido nos Estados Unidos.
Segundo os cientistas, o novo método, em que o DNA da mãe foi transplantado  para outro óvulo que teve o DNA retirado, mas uma mitocôndria saudável, pode ser  a solução deste problema.
Para Shoukhrat Mitalipov, a nova tecnologia está pronta para ser testada em  humanos.
“Os testes em humanos podem começar em breve, talvez dentro de dois ou três  anos”, disse.
Alguns grupos, no entanto, expressaram preocupação de que este método possa  envolver modificações genéticas que podem ser transferidas por diversas  gerações.
“O fato de os efeitos deste tratamento poderem persistir por gerações faz com  que debates médicos sejam necessários, assim como mais testes”, diz Helen  Wallace, do grupo GeneWatch, uma ONG que estuda os riscos da engenharia  genética.
Mas, de acordo com o professor Robin Lovell-Badge, do National Institute for  Medical Research, em Londres, as pessoas não precisariam se preocupar.
“A mitocôndria não confere características humanas específicas. Seria como  mudar as bactérias de nosso intestino, o que eu suspeito que ninguém ligaria”.
Fonte: BBC News
 
